Castelo perto de Paris guarda tesouros de ‘extravagâncias’ reais

Os castelos da realeza francesa carregam o estilo nem sempre espartano de seus soberanos. Em 2019, pode até parecer absurdo, mas na época era muito comum reis e rainhas, assim como os nobres, lançarem empreendimentos, considerados insólitos nos dias atuais, para simplesmente impressionar. Era símbolo de poder, austeridade e, de certa forma, uma demonstração de estar na moda.

O Château de Rambouillet, 40 minutos de trem distante de Paris, próximo a Versalhes, mantém conservado até hoje dois exemplares dessas ‘extravagâncias’, a Laiterie de la reine e o Chaumière aux coquillages.

A Laiterie de la reine, instalada nos jardins do castelo, era um espaço reservado para degustação de produtos lácteos finamente decorado com temas pastoris. Foi presente-surpresa de Luís XVI para Maria Antonieta, conforme informações fornecidas no próprio castelo. Amante da caça, o rei transformou Rambouillet em residência real em 1783.

Decisão que não teria agradado Maria Antonieta, que considerava o castelo medieval e pantanoso demais, preferindo Versalhes.

Para convencer a rainha do quão bom seria passar os dias em Rambouillet, o rei refez seu apartamento e, diante da falta de interesse de Maria Antonieta, determinou a construção em segredo de um lugar onde a rainha pudesse passar seu tempo em um ambiente pastoril, à semelhança de sua pequena aldeia rural em Versalhes, quando a moda da época era valorizar o campo, aliando-o ao luxo.

A laiterie, projetada como um pequeno templo grego, conta com dois anexos próximos, destinados ao descanso dos reis e onde eram preparados os produtos à base de leite. Em 1787, a rainha descobriu o presente, escondido em meio a plantas artificiais. Teria sido a única vez que entrou na laiterie. Os acontecimentos históricos, marcados pelas revoltas que eclodiram com a Revolução Francesa, forçaram a família real a se isolar em Versalhes.

Mais tarde, Napoleão Bonaparte promoveu reformas na laiterie, imprimindo também seu estilo.

No mesmo jardim em Rambouillet, está a Chaumière aux coquillages, uma pequena ‘cabana’ de pedra construída nos anos 1770, alguns anos antes da laiterie de Maria Antonieta.

A construção campestre, com telhado de palha, sobreviveu à Revolução Francesa e esconde um ‘tesouro’ em móveis e decoração feita com conchas. Mais um ‘capricho’ da realeza francesa que pode ser conhecido ao vivo e em cores, graças à conservação e à restauração realizada entre os anos de 2002 e 2007.

Era refúgio de Maria Luísa Teresa de Saboia-Carignano, a Princesa de Lambelle, amiga italiana e confidente de Maria Antonieta. Antes de morrer em Paris, e ter sua cabeça decepada e levada à prisão onde se encontravam os reis, a Princesa de Lambelle passava parte do tempo em Rambouillet. Ficou viúva muito cedo e a ‘cabana’ foi construída, para seu uso pessoal, por determinação do sogro, o Duque de Penthiève.

Assim como a Laiterie de la reine, a cabana da Princesa Lambelle também fazia parte da etiqueta e moda francesa da época. Era uma espécie de sala de estar em meio aos jardins, com múltiplas funções: proteção ao sol, relaxamento, leitura de poesias e ambiente reservado para retocar a maquiagem.

As paredes e o teto são cobertos de conchas, acomodadas com pasta de vidro e pedaços de mármore. O chão, de madeira, garante perfeita acústica.

Em Rambouillet, o acesso à cabana é acompanhado, feito exclusivamente com funcionário do castelo, assim como na laiterie de Maria Antonieta. Somente na primavera e no verão, os móveis, assinados por François-Toussaint Foliot, são vistos na cabana. No outono e no inverno, ficam expostos no castelo, protegidos da umidade.